sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Uma noite comum

(escrevi faz uns dois ou três anos, mas continua bom)

Uma noite comum.


Era uma noite de verão em 1963, havia uma leve brisa noturna, e o céu estava límpido como em poucas noites do ano. Em uma rua escura como aquela o vislumbre do céu era mais proveitoso do que no centro de Dallas, onde nesse momento todos se amontoavam próximos a uma TV ou a um rádio para ouvir mais sobre a manchete do dia.

Olhou bem para o céu e suspirou, agora merecia um bom descanso depois de um dia daquele, mas antes precisava se encontrar com uma pessoa. Acendeu mais um cigarro e olhou para o ponto de ônibus onde uma mulher ralhava com o garoto que parecia ser seu filho, se lembrou de sua mulher, agora grávida no oitavo mês. Como todo pai de primeira viagem sempre se pegava refletindo como seria sua vida dali para frente; porém, com esse último serviço garantira uma boa poupança para o futuro do filho.

Era um homem acima de quaisquer suspeitas, com trabalho, casa e carro, sempre bem vestido e muito educado, ia todo domingo à igreja e sempre que podia levava sua mulher ao cinema.

Entrou no estabelecimento e sentiu o cheiro d café que lhe lembrava a casa de sua mãe. Retirou o pacote com o balconista na maior naturalidade e o guardou no bolso interno do paletó. Todos estavam voltados para a TV. Em algum instante um homem grisalho pediu por fósforos, ele mentiu que não tinha quando o homem irrompeu:

-Você acredita nisso que aconteceu com Kennedy hoje?
Para ele a pergunta não poderia ter mais tom de ironia, lembrou-se de quando estava oculto a 20 metros do presidente naquele mesmo dia , e do pacote de dinheiro no seu bolso.

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