quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A menina e a borboleta

-Bianca! Pára já com isso!
O berro se fez ouvir por toda a praça, alguns rostos se voltaram para ver o que se passava. Era uma mãe, morena, alta, por volta dos seus quarenta anos que gritava com sua filha de uns três aninhos, uma princesinha de cabelos castanhos e olhos azuis. A filha olhou para a mãe com os olhos tristes e baixou a cabeça.
A cena aconteceu em uma tarde de sábado no banco de uma praça, onde a mãe estava sentada conversando com uma amiga. A garotinha visivelmente entediada procurava chamar a mãe que fingia não ouvir.
-Bianca! Deixa a mamãe conversar!
Depois de mais esse berro a criança desistiu e ficou sentada balançando as pernas. Era mais uma dessas mães estúpidas que resolvem tudo no grito como se a criança tivesse um problema de audição ou coisa parecida. Sentado alguns metros à frente delas eu observava a cena. A menina parecia comportada, ficou sentada quietinha por alguns minutos, quando viu uma borboleta no chão e sua curiosidade de criança falou mais alto. Desceu do banco e ficou agachada olhando o inseto, que mexia as asas num movimento suave.
Pareciam conversar, se examinando em perfeita sintonia aquela garotinha e a borboleta. A borboleta tinha as cores amarelo e vermelho, as mesmas do vestido da menina. Talvez a borboleta nascesse, voasse durante semanas e depois morresse sem que ninguém tivesse parado para admirá-la, se não fosse pela garotinha. Ninguém dá mais atenção a uma borboleta, são achados raros na correria do dia-a-dia, pequenas demais para se fazerem notar em meio ao concreto das cidades.
A garotinha olhava com a cabeça ligeiramente inclinada para o lado, com uma expressão de interesse descompromissado. A cena era simples e bela. Com muita calma tentou tocar o inseto, aproximou a mão e a afastou como se levasse um choque ao tocá-lo, olhou para ver se a mãe havia visto, mas esta continuava conversando. Ficou fitando a borboleta por mais alguns instantes e tentou tocá-la de novo. Quando estava a alguns centímetros a mãe interrompeu.
-Pára de mexer com essas porcaria e vamos em vamos embora Bianca! –Gritou
De pronto a menina obedeceu e pegou na mão da mãe que já saía andando, esta botou a filha no colo e seguiu seu rumo. Por um instante a menina olhou para mim e depois para a borboleta, vi em seus olhos a ligeira angústia infantil ao ser separada da amiga, e pensei como o mundo seria melhor, ou pelo menos mais belo, se fôssemos todos tão inocentes como as crianças.

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