terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vida no interior

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Plec-Ploc, Plec-Ploc
faz a ferradura sobre os paralelepípedos
Plec-Ploc, Plec-Ploc
e junto a batida do meu coração...
o movimento (parado)
de um mundo que se perdeu no tempo
e ficou assim sem passar
sem tais coisas como o "progresso"
uma extenção do tempo
uma hipérbole de tempo
onde o que é, não só foi
como continuará a ser no futuro
e a laranjeira depois do muro
com o mesmo fruto doce
que foi para o filho, o pai e o avô
aqui ainda se diz "Sim-sinhô!"
e acorda-se cedo pois:
"Deus ajuda quem cedo madruga!"
fala-se em Deus com a siceridade de quem sente
e vai-se domingo à missa
mesmo havendo pirraça
e a molecada corre depois
para tirar as roupas de domingo
e voltar para sua comunhão
pelos frutos, pelas pipas, pelos peões
pela eterna brincadeira de quem ainda não descobriu
que a vida é dura
e ela dura eternamente nesse tempo
que por não passar
conserva tudo que há de feliz
tudo que há de difícil, tudo que há de beato
nesta vida
Porta, Portão, Portêra
tudo no seu lugar
até a pronúncia dos 'erres'
e o murmurar quase engolindo
as palavras é o mesmo
desde sempre e sempre será
a pinga debaixo da pia
a água da talha
a árvore no terreiro
o tutu com couve
a mesma gente
nas mesmas cenas
em tantos lugares
a mesma vida
que passa sem passar
nesse tempo sem tempo
perdido em algum lugar.

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